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CONVERSAS E DIÁLOGOS EM DESIGN GRÁFICO / NEWS VIEWS 02 / 2008

Por Márcio Leite, originalmente publicado no relatório do grupo de estudantes do encontro NEWS VIEWS 02 - Londres, 2009.


Eu faço Design, Você faz Design, Todos Nós fazemos Design! Demonstrando por que os métodos de ensino de design devem ser atualizados tão rapidamente quanto as mudanças de hábitos e práticas de nossa sociedade.



Foto: Almofadas com estampa retrô, a partir de uma caixa de sabão em pó re-estilizada, da marca You Make Me Design.


Desde que me graduei em uma universidade de design no Brasil, ainda nos anos 90, sempre fui intrigado com a dicotomia posta entre artes visuais e a prática do design. Eu nunca fui capaz de entender na graduação como separar a prática da expressão artística daquelas do mundo das práticas técnicas usadas no design.


Foi muito difícil para mim desvencilhar o entendimento técnico de cores, formas e significados empregados na prática do design, daqueles usados na artes plásticas. A pergunta que eu continuamente me fazia era: é possível que o design seja estritamente técnico, desprovido de qualquer emoção, mesmo ao projetar uma caixa de detergente em pó?



Foto: Aulas práticas de composição tipográfica no curso de mestrado em design gráfico no London College of Communication. Londres, 2008.


Na minha perspectiva, ainda hoje, não há diferença na concepção de uma obra de arte e um projeto de identidade visual, porque ambas abordagens exigem uma construção prévia semiótica, bem como um ponto de vista emocional e crítico.




Foto: Josef Albers ensina seus alunos no curso preliminar da Bauhaus, 1928. (arquivo Bauhaus).

A dicotomia do século passado entre arte e design está finalmente assumindo uma nova forma, à medida que está sendo incorporada à nossa sociedade contemporânea como um modo de vida e cultura. É possível supor que, na última década, nossa sociedade pós-industrial contemporânea tenha sido imersa em um número cada vez maior de novas ferramentas digitais e cultura de mídia de massa, influenciando e mudando a maneira como produzimos e consumimos o Design.

Essencialmente, estamos vivendo em uma "sociedade do design", onde o design não é mais um processo importante de produção, mas algo amplamente anunciado como um "acessório" importante de uma longa lista de produtos nas prateleiras do mercado. O design está excedendo sua função original e se tornando uma poderosa ferramenta de marketing que vende carros, móveis, brinquedos e qualquer outra mercadoria.


Porém, por mais que o design esteja influenciando a sociedade desta forma, a sociedade também está também influenciando o design continuamente.


Nesse sentido, tive uma longa conversa com uma amiga que faz parte de uma nova geração de tutores no Brasil e coordenadora do departamento de design de uma universidade do interior de uma área demográfica muito específica do Rio de Janeiro, e concordamos firmemente que a sociedade, talvez mais do que nunca, está moldando o design, a educação em design e sua compreensão como profissão.


Na cidade industrial onde minha amiga ensina, há uma demanda crescente por designers (tanto gráfico como de produto). No entanto, a economia local tem necessidades muito específicas. Isso significaria que o mercado estaria solicitando mais profissionais tecnicamente qualificados, em vez de profissionais críticos ou analíticos.



Foto: Alunos do curso de design da UNIFOA em Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro desenvolvem projeto de carro elétrico. Compreensão global dos métodos de design aplicados ao contexto da indústria local. Volta Redonda, Rio de Janeiro, 2012.



Isso coloca a questão: como uma universidade pode criar um currículo que respeite e aprecie o aspecto crítico e analítico da educação em design quando o mercado está pedindo outra coisa?


O profissão do designer está gradualmente ganhando um novo significado. Para mercados específicos focados apenas no profissional técnico, isso significa que qualquer abordagem humanística na educação poderia parecer um apêndice desnecessário. No entanto, esses mercados não compreendem o valor de algumas competências essenciais que são extremamente relevantes nas práticas de design, especialmente nos dias atuais. Caberia à universidade educar também o mercado, aproximar desta indústria. A questão hoje não é mais sobre artes visuais versus prática técnica, mas o futuro da educação em design em uma sociedade que agora é capaz de produzir suas próprias soluções de design sob medida. O novo profissional da era de hoje não deve apenas ser proficiente no gerenciamento de novos softwares, de "pacotes criativos", ou ter um profundo entendimento tipográfico, mas o mais importante : deve também estar profundamente imerso na exploração de códigos visuais de grupos específicos da micro-sociedade.


Em outras palavras, os métodos de ensino do Design devem ser atualizados tão rapidamente quanto as mudanças de hábitos e práticas de nossa sociedade, bem como continuar atendendo às demandas de sociedades específicas e economias de design educando-a acerca das suas novas capacidades.


Em resposta à minha primeira pergunta: para projetar até a caixa de sabão em pó mais ordinária, o profissional deve estar preparado para poder entender quem é o público em sua essência e contextos, do ponto de vista sociocultural. Esse profissional deve ser capaz de contextualizar e colocar o fator socio-humano no centro de seu trabalho, mais do que criar uma bela obra de arte moderna. É assim que o público entenderá melhor a mensagem e incorporará o objeto em sua vida.

Em nossa “sociedade do design”, é incontestável que qualquer pessoa possa tentar projetar criativamente seus próprios 'designs'. No entanto, o novo profissional é quem sabe como colocar o design apropriado no lugar certo.


Foto: Grupo de ex-alunos do MAGD / LCC 10 anos após a graduação. O design segue mais do que nunca as causas sociais e é uma poderosa ferramenta política de trnasformação. Londres, setembro de 2018.


Por Márcio Fábio O. Leite

MA Graphic Design • University of the Arts London / LCC

Originalmente publicado no relatório do 'Cluster de estudantes' do encontro NEWS VIEWS 02 - Londres, 2009.






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